Manual de Redação, Tradução e Estilo

Setembro de 2011

Autor: Luciano O. Monteiro


1 – INTRODUÇÃO

Este guia foi redigido com base no Manual de Redação, Tradução e Estilo escrito e atualizado por Luciano O. Monteiro desde novembro de 2009. Ele contém instruções direcionadas principalmente à tradução de textos sobre futebol. Porém, também é útil para a tradução de outros documentos, já que se concentra não apenas em técnicas de conversão e adaptação, mas também — e principalmente — nas regras e convenções pertinentes à redação do texto final em português.

Está proibida a reprodução parcial ou total deste documento sem a devida menção do autor e sem a inclusão do link para o texto original em http://www.lucianomonteiro.com/manual.

2 – INSTRUÇÕES GERAIS

2.1. Revisão

Com trabalhos de publicação de notícias na internet, cada segundo faz a diferença. Justamente por causa disso, é fundamental que o tradutor entregue o seu trabalho sem informações incorretas ou problemas linguísticos que possam exigir uma longa revisão e a consequente perda de tempo. Assim, sempre revise duas vezes a sua tradução. Na primeira, compare o texto traduzido com o original para que nenhuma informação relevante fique de fora. Na segunda, esqueça-se do original e leia o texto com os olhos do leitor. Assim será possível identificar possíveis trechos muito literais e reescrevê-los em um estilo equivalente ao encontrado nos bons veículos da imprensa esportiva brasileira. Por último, verifique se a formatação da tradução está de acordo com a do original. Uma descrição mais detalhada do método usado por mim está no artigo intitulado The Four-Step Approach to Translation Quality (em inglês).

2.2. Relevância e naturalidade

Todo texto jornalístico tem um público-alvo, e é justamente esse público em potencial que define o que é e o que não é relevante. No texto em alemão, pode ser relevante deixar explícito que um dos 23 convocados da seleção do Djibuti joga em um time da segunda divisão da Bundesliga. Mas até que ponto isso interessa ao nosso público-alvo (brasileiros e outros falantes do português pelo mundo)? Por outro lado, às vezes informações que nos são relevantes estão ausentes do texto original e devem ser incluídas. Por exemplo, o croata Eduardo da Silva é na verdade brasileiro. Assim, referir-se a ele como "brasileiro naturalizado croata" é muito mais interessante para os leitores, mesmo que no texto original ele seja associado somente ao país que defende no futebol.

Com o mesmo objetivo, embora este seja um trabalho de tradução, nunca caia na armadilha de tentar reproduzir demais a forma como o artigo foi escrito no original. Isso poderá fazer com que o seu texto não tenha nada a ver com a maneira como se costuma escrever no bom jornalismo esportivo brasileiro. Pense no seu trabalho não como uma simples tradução, mas como uma adaptação do texto original ao mercado-alvo: o leitor brasileiro. Se você nunca leu ou nunca escreveria determinada palavra no seu próprio texto, é bem provável que não deva usá-la no texto que está traduzindo. Resumindo: seja ousado e não tenha medo de adaptar o texto.

Existe também o aspecto cultural da adaptação. É possível que um texto no original contenha menções a fábulas, ditados ou histórias irrelevantes ou inexistentes em português. Nesses casos, pode ser necessário remover parágrafos inteiros ou até mesmo transformar o "gancho" da matéria. Em todas as ocasiões, pense sempre em qual seria a reação do leitor médio brasileiro ao se deparar com um conteúdo obscuro e confuso já no primeiro parágrafo.

Falando em primeiro parágrafo, sempre vale repetir a importância do "lead". Muitas vezes, o parágrafo inicial será a única coisa lida pelo leitor médio. Portanto, se for ruim (ou seja, pouco informativo, confuso ou irrelevante), poderá afastar até mesmo o leitor que costuma ir até o fim.

Atenção especial também deve ser dada às declarações, seja dentro do texto corrido ou em arquivos apenas com comentários de técnicos e jogadores. Nesses casos, a literalidade se torna mais importante. Mesmo assim, a tradução literal se refere ao conteúdo e não à forma. Não se contente com os cognatos e sempre busque o termo ou construção equivalente em português.

2.3. Repetição

Os mecanismos para evitar a repetição vocabular são importantes em todos os idiomas. Porém, eles não precisam ser usados no texto em português exatamente como o foram no artigo original, seja em inglês, espanhol, alemão, francês ou árabe. Use a sua criatividade para tornar a leitura do texto agradável. Como regra geral, evite o uso do mesmo substantivo ou adjetivo duas vezes no mesmo parágrafo. Também tente evitar a ocorrência de diversos parágrafos iniciados com a mesma palavra ou expressão.

2.4. Aspecto estético

No momento de iniciar ou terminar um parágrafo, leve em conta também o tamanho que ele terá no texto publicado. Dependendo da página em que o documento aparecerá, a largura do texto ou o tamanho da fonte poderão variar. Independentemente do que estiver no original, cada redator tem a liberdade de dividir os parágrafos da maneira que achar melhor. Porém, exceto em casos excepcionais, evite parágrafos muito grandes ou muito pequenos. Evite também textos com grande variação na extensão dos parágrafos. Do ponto de vista gráfico, prefira um texto com blocos de tamanho semelhante.

3 – ORTOGRAFIA, GRAMÁTICA E PONTUAÇÃO

3.1. Ortografia

A ortografia a ser seguida é a aprovada pelo recente Acordo Ortográfico e detalhada na quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e posteriores correções e aditamentos. Use com cuidado o corretor (muitas vezes defasado) do Microsoft Word. Mesmo se o corretor não estiver atualizado, não deixe de usá-lo, pois ele ainda consegue detectar a maioria dos deslizes de digitação.

3.2. Escores

Ao traduzir escores, use "x" separado por espaços. Por exemplo, "Argentina 1 x 0 Uruguai". Entretanto, em texto corrido, é preferível usar "a". Por exemplo, "a Argentina bateu o Uruguai por 2 a 0" em vez de "a Argentina bateu o Uruguai (2x0)". Evite "vs", "2:0" ou "2-0".

3.3. Encadeamento lógico

Apesar de toda a liberdade de estilo e da importância da criatividade, é importante que o texto tenha uma precisão lógica no seu encadeamento. Em outras palavras:

Errado: O evento teve a participação do presidente da FIFA e o presidente da CBF.

Certo: O evento teve a participação do presidente da FIFA e do presidente da CBF.

Errado: O jogador driblou dois jogadores, o goleiro e chutou para o gol.

Certo: O jogador driblou dois jogadores, passou pelo goleiro e chutou para o gol.

Errado: Campeão do mundo em 2002, ninguém duvida da qualidade de Ronaldo.

Certo: Campeão do mundo em 2002, Ronaldo não deixa dúvidas sobre a sua qualidade.

Certo: Ninguém duvida da qualidade de Ronaldo, campeão do mundo em 2002.

3.4. Plural

"Maioria" é sempre singular. Já uma porcentagem pode concordar com o número ou com a palavra a que se refere. Vamos utilizar a segunda opção.

Errado: A maioria das equipes jogam no 4-4-2.

Certo: A maioria das equipes joga no 4-4-2.

Errado: A pesquisa indicou que 15% da população já assistiram a uma partida de futebol.

Certo: A pesquisa indicou que 15% da população já assistiu a uma partida de futebol.

Certo: A pesquisa indicou que 15% dos moradores já assistiram a uma partida de futebol.

Muitas vezes pode fazer mais sentido substituir percentuais por expressões como "a metade", "um terço" ou "dois a cada três".

3.5. Declarações

Em declarações com aspas, empregue a pontuação usando a lógica. Em suma, se a vírgula ou o ponto fizerem parte da declaração, deverão ficar dentro das aspas. Caso contrário, deverão ficar fora.

Seguindo a mesma lógica, não termine com vírgula uma declaração formada por mais de uma frase: use conjunções para torná-la apenas uma, utilize o discurso indireto ou separe as frases em duas declarações. Há várias maneiras de resolver a situação.

Original: "The team played a great match. We are very happy. Now it is time to celebrate," said the player.

Errado: "A equipe jogou uma ótima partida. Estamos muito felizes. Agora é hora de comemorar", afirmou o jogador.

Certo: "A equipe jogou uma ótima partida", afirmou o jogador. "Estamos muito felizes. Agora é hora de comemorar."

Certo: De acordo com o jogador, agora é hora de comemorar. "A equipe jogou uma ótima partida e estamos muito felizes", afirmou.

Além disso, use sempre aspas duplas (e não travessões ou aspas simples) para destacar as declarações.

3.6. Possessivos

O uso dos possessivos (meu, seu, nossa, deles) é muito mais comum em inglês do que em português. Em muitos casos, o artigo definido sozinho dá conta. Nos casos em que o possessivo for imprescindível, ele deverá ir acompanhado do artigo definido, a não ser nos casos de expressões idiomáticas consagradas.

3.7. Demonstrativos

O mesmo se aplica aos demonstrativos, como este, esse, aquele e aquela. Muitas vezes o demonstrativo pode ser deixado de lado e substituído pelo artigo definido, sem mais nada. Por exemplo, em uma declaração, pode ser mais natural usar "o grupo é muito difícil" do que "este grupo é muito difícil", principalmente se houver mais pronomes ou adjetivos demonstrativos no texto.

3.8. Reflexivos

Use corretamente os verbos reflexivos. Uma competição começa e termina, mas "se inicia" e "se encerra". Da mesma forma, uma seleção "se classifica" (ou "obtém a classificação").

3.9. Travessão

Se quiser usar um travessão, tenha cuidado para não utilizar um hífen ou um sinal de subtração, que são coisas diferentes. O travessão longo pode ser produzido por meio das teclas de atalho ALT+0151. Porém, use-o com parcimônia, preferencialmente não mais do que uma vez no mesmo parágrafo. Às vezes ele pode ser substituído por vírgulas ou parênteses. Em frases muito longas, pode ser melhor isolar uma oração subordinada e fazer dela uma nova frase.

3.10. Numerais

Como regra geral, ao mencionar um numeral no decorrer de um texto, faça-o por extenso nos números de um a dez, além de "cem" e "mil". A partir de 11, use os algarismos. A exceção é o começo de uma frase, em que o número deve ser usado por extenso.

Errado: 120 jogadores receberam o prêmio nos últimos 50 anos.

Certo: Cento e vinte jogadores receberam o prêmio nos últimos 50 anos.

Já em números com milhares, milhões ou bilhões, prefira o formato com vírgula quando for possível usar apenas uma casa decimal (2,8 milhões; 20,5 mil) e o numeral completo separado por ponto em outros casos (24.544 pagantes; 6.244.533 habitantes).

Outras exceções são as fichas técnicas, em que o numeral entre parênteses indica o minuto em que um gol foi marcado, e as referências ao número de um jogador em campo, como "camisa 10" ou "camisa 1".

3.11. Maiúsculas

Evite o uso exagerado de palavras iniciadas com letras maiúsculas. Use-as somente em nomes próprios e termos como marcas registradas. Descrições de funções vão em minúsculas, assim como a palavra "seleção", a não ser que esta se refira especificamente à brasileira. Ou seja: "Foi a primeira vitória da seleção do Equador", mas "Ronaldo garante que sonha em voltar à Seleção".

4 – DICAS GERAIS DE TRADUÇÃO

4.1. Nomes de competições

Ao se referir a competições nacionais, há duas possibilidades. Preferencialmente, use formas genéricas como "Campeonato Italiano" ou "Copa da Bélgica". O nome do torneio no idioma original poderá ser usado somente se for de total compreensão para o leitor médio, e de preferência se o formato genérico já estiver presente no texto. Isso vale para torneios como a "Major League Soccer", a "Bundesliga" e a "Premier League". No caso desta última, é bom lembrar que pode ser tanto o Campeonato Inglês quanto o Campeonato Escocês (SPL).

Há também casos específicos em que mesmo o nome genérico pode apresentar uma dificuldade. Por exemplo, há duas copas na Inglaterra: a "FA Cup" (Copa da Inglaterra) e a "League Cup" (Copa da Liga da Inglaterra). Importante: não use Copa da Alemanha, Copa da França, Copa da África do Sul ou outros termos do tipo para se referir à Copa do Mundo da FIFA. Para destacar o país, prefira Alemanha 2006, França 1998 e África do Sul 2010, ou o nome completo da competição.

Sobre a Copa do Mundo da FIFA, evite usá-la no plural. Prefira "duas edições da Copa do Mundo da FIFA" a "duas Copas do Mundo da FIFA".

Ainda com relação a competições, é bom destacar que um jogador atua em um clube, e não em uma competição. Portanto, não faz sentido dizer que um determinado atleta "transferiu-se para a Bundesliga" ou "atua no Campeonato Italiano". Mesmo que o jogador tenha obtido uma transferência para o futebol alemão ou atue no futebol italiano (duas construções aceitáveis), o campeonato nacional é apenas uma das competições que ele disputa pela sua equipe, juntamente com diversas outras copas nacionais e internacionais.

Uma tabela com os nomes em português das principais competições internacionais pode ser encontrada no item 6.2.

4.2. Nomes de clubes

Nem sempre os times serão conhecidos pelo mesmo nome em todos os países e em todos os idiomas. O item 6.3 traz uma lista com alguns exemplos, mas também há regras que podem ser úteis:

a) Os nomes de clubes de países que não utilizam o alfabeto ocidental costumam ser adaptados de acordo com o idioma do texto em que são usados. Nesse caso, deve-se evitar usar a grafia do idioma "intermediário". Por exemplo, o time chamado de "Beijing Guoan" pelos ingleses deve ser grafado simplesmente "Guoan", eventualmente mencionando-se a cidade de origem (Pequim).

b) Em inglês, muitas vezes o nome da cidade é adicionado ao nome do time. Isso ocorre em casos como "Inter Milan", "Ajax Amsterdam" e "Partizan Belgrade". Em português, se quiser incluir a cidade para ajudar na descrição (o que nem sempre é necessário), use "de": Internazionale de Milão, Ajax de Amsterdã, Partizan de Belgrado. Quando a cidade fizer parte do nome original do clube, ela poderá ser mantida, como no caso de "Real Madrid".

4.3 Posições

É importante prestar atenção ao fato de que cada cultura vê o futebol de uma maneira diferente e usa termos específicos que refletem esse ponto de vista. Por questões até mesmo culturais, em uma mesma partida, um comentarista inglês pode chamar de "winger" um jogador que é normalmente tratado pela imprensa brasileira como atacante. Nesse caso, é mais importante a naturalidade do texto final do que a fidelidade da tradução ao original.

O que chamamos de "ala" em português é o que os ingleses chamam de "wing back". Embora o "winger" e o "wing back" muitas vezes ocupem uma função semelhante em campo, o "wing back" também incorpora a função do "full back" (lateral). Já o "winger" geralmente atua em um esquema que também tem um "full back".

Ainda sobre os beques, vale a pena lembrar que "centre back" é traduzido como zagueiro, e não como zagueiro central. Um time normalmente tem dois "centre backs", mas apenas um zagueiro central. O outro integrante da zaga, quando especificado, é o quarto zagueiro, mas o termo está caindo em desuso. Também é possível diferenciar os dois beques como zagueiro pela direita e zagueiro pela esquerda.

Outro termo comum em inglês, mas que nem sempre precisa ser traduzido ao pé da letra, é "wide midfielder" — na maioria das vezes o jogador é chamado simplesmente de meia ou meia-atacante no Brasil. Quando o espaço permite, é possível explicar a função: "um meia que atua aberto pelos lados do campo".

4.4. Seleção

Embora termos como "team" sejam às vezes usados indiscriminadamente para clube e seleção, no português "time" é geralmente associado somente ao clube. Portanto, dê preferência para os termos "seleção", "selecionado" ou o nome do país. Por exemplo, traduza "the Concacaf teams" como "as seleções da Concacaf", pois "os times da Concacaf" pode causar ambiguidade.

"Equipe" pode ser usado sem problema para se referir a uma seleção quando se quiser dar ênfase ao espírito coletivo. Mas nesse caso também valem os termos "conjunto", "grupo", "elenco" e "plantel". É bom variar.

4.5. Cargos

Vale lembrar que, em texto corrido, o cargo ou função vai sempre em caixa baixa e antes do nome. A exceção à regra são as frases isoladas nos inúmeros textos que contêm somente declarações, nos quais deve ser usado o formato "Pim Verbeek, técnico da Austrália".

4.6. Confederações

Para evitar uma profusão de siglas, procure usar os nomes das regiões em vez dos nomes das confederações correspondentes. Por exemplo, é melhor traduzir "Concacaf qualifiers" como eliminatórias da América do Norte, América Central e Caribe.

4.7. Distâncias

Alguns textos podem conter referência à distância exata de um chute a gol. Porém, o leitor brasileiro não está tão acostumado a identificar automaticamente a distância do gol em metros. Por isso, em vez do número, é necessário utilizar outros pontos de referência. Portanto, em vez de dizer que o chute foi dado a cinco, 15, 30 ou 50 metros do gol, prefira "à queima-roupa", "da entrada da área", de "fora da área", "da intermediária", "em diagonal", "cruzado" e outras descrições do tipo. Sempre que possível, procure um vídeo do lance em questão para ter certeza de que está fazendo a descrição correta.

5 – DICAS DE TRADUÇÃO DE LÍNGUA INGLESA

5.1. Nomes

Nos textos em inglês, praticamente nenhum nome leva acentos, mas isso não nos isenta de publicar os nomes próprios com a grafia correta. É fácil descobrir que o "Goncalves" na verdade é Gonçalves, mas também é importante prestar atenção à grafia correta de jogadores de países hispânicos, eslavos ou de outras regiões. Em caso de dúvida, faça uma pesquisa on-line. As melhores fontes são sempre as do país de origem da pessoa ou entidade em questão. A acentuação é desnecessária em nomes cujo idioma original use um alfabeto não ocidental, como o cirílico ou o grego.

Observe que muitas vezes os nomes encontrados no próprio site da FIFA podem não ser os que devem ser usados no texto em português. Por razões não editoriais, determinadas páginas, por exemplo, poderão conter referências a nomes como "Oezil" ou "Mueller" (formas comuns em inglês), mas o correto em português é manter a forma do alemão com trema: "Özil e "Müller".

5.2. Apelidos

Ao encontrar apelidos de clubes e seleções de futebol, sempre leve em conta se tais apelidos são relevantes e frequentemente usados no contexto da imprensa esportiva brasileira. Por exemplo, usar o termo "Celeste" para se referir ao Uruguai é aceitável, mas dizer "Team Melli" para falar do Irã faz pouco sentido em português a não ser em contextos muitos especiais e com explicações claras. Usar apelidos de seleções nacionais é uma fixação da imprensa inglesa que não encontra reciprocidade na imprensa brasileira.

Quando for necessário usar apelidos no plural para referir-se aos jogadores, lembre-se de que adjetivos em português não devem começar com letra maiúscula. Portanto, nunca inicie com maiúsculas descrições como "leões indomáveis", "charruas", "guaranis", "astecas" e outros. Porém, use maiúscula quando o apelido substituir o nome do time ou seleção: "Laranja Mecânica", "Fúria", "Celeste".

Use itálico somente no caso de apelidos em língua estrangeira: "a Vinotinto", "a Roja". Contudo, como regra geral, evite uma chuva de itálicos no texto, o que pode acabar prejudicando a legibilidade.

5.3. Plural

Pelo menos no que tange à variante britânica, nomes de times e seleções pedem concordância no plural. Porém, isso não funciona no português. Sempre faça as adaptações necessárias, especialmente em declarações.

Exemplo: Today we faced the European Champions. Spain are very strong. They were difficult opposition.

Errado: Hoje enfrentamos os campeões europeus. A Espanha é muito forte. Eles foram adversários muito difíceis.

Certo: Hoje enfrentamos a campeã europeia. A Espanha é muito forte e foi uma adversária muito difícil.

Errado: Hoje enfrentaremos os líderes do campeonato.

Certo: Hoje enfrentaremos o líder do campeonato.

No exemplo acima, a forma "errada" só estaria "certa" se houvesse várias equipes empatadas na liderança e o time em questão fosse enfrentar todas elas no mesmo dia, o que é bastante improvável.

5.4. Trocadilhos

A tradução de títulos e manchetes apresenta uma dificuldade especial. O uso de trocadilhos (muitas vezes infames) é muito mais aceito na imprensa inglesa (principalmente nos tabloides, mas também entre os veículos ditos sérios) do que na brasileira. Ao encontrar trocadilhos em títulos, só os traduza literalmente se houver um ditado equivalente em português, se ele fizer sentido no contexto do artigo e, principalmente, se o uso de tal ditado não parecer exagerado ou de mau gosto.

Às vezes é possível criar um título em português que também seja divertido, inteligente e de bom gosto, mas nem sempre. É sempre melhor criar um novo título informativo e direto do que parir um monstro redigido em "tradutês".

5.5. Pronomes

Enquanto a regra na língua inglesa é o uso do pronome pessoal reto para identificar o sujeito, a preferência no português é muitas vezes a omissão para tornar o texto mais enxuto. Portanto, prefira "acho que vamos vencer" a "eu acho que nós vamos vencer", a não ser que haja motivo para ênfase no sujeito.

5.6. Legend

Tenha cuidado com o uso exagerado desta palavra, assim como com o de "legendary". Embora "lenda" e "lendário" sejam os respectivos cognatos em português, eles têm um uso um pouco mais restrito e, via de regra, podem dar a ideia de algo irreal ou inexistente. Recomenda-se o uso com parcimônia. É bom diversificar com palavras como ícone, ídolo, craque, inesquecível, histórico e muitas outras.

5.7. Aggregate

O uso de "placar agregado" é um anglicismo não só linguístico, como também cultural. Em primeiro lugar, "agregado" neste caso é um falso cognato. Em segundo, pela tradição brasileira, a soma dos placares de um confronto de ida e volta tem menos importância do que os resultados de cada uma das partidas. É inevitável que o leitor brasileiro fique na dúvida ao ler que "o Barcelona perdeu por 5 a 4 na soma dos placares". É muito mais significativo dizer que o Barcelona venceu o primeiro por 4 a 0 e perdeu a volta por 5 a 0, ou que o jogo de ida foi um frustrante 0 a 0 e que a segunda partida terminou 5 a 4.

Se realmente for relevante mencionar o que alguns erradamente chamam de "placar agregado", prefira o termo "soma dos placares" e não omita o escore de cada partida. Por mais que alguns jornalistas venham usando a palavra "agregado" por influência de "on aggregate", o termo ainda é confuso por causa dos seus outros usos na língua portuguesa.

5.8. To include

O principal significado de "incluir" em português é o de acrescentar, adicionar ou inserir. Se quiser dizer "abranger", "compreender" ou "conter", faça-o. Em certos casos, pode ser necessário alterar a estrutura da frase:

Errado: O campeonato inclui quatro times.

Certo: O campeonato conta com quatro times.

Certo: Quatro times participam do campeonato.

5.9. To focus

Evite "focar". Prefira "concentrar-se em", "dar maior importância a" ou "priorizar".

5.10. Club football

Alguns textos em inglês poderão fazer referência a "club football" ou "international football". Mesmo assim, lembre-se de que o futebol é só um, é o mesmo esporte, com as mesmas regras. Portanto, não existe "futebol de clubes" ou "futebol de seleções" (que é o que "international" significa ali). Faça as modificações necessárias. Como uma expressão isolada em títulos, "club football" pode muito bem ser traduzido como "clubes". Quando houver menção a "club career", uma boa opção é falar simplesmente em "carreira profissional" ou então adaptar com algo como "nos clubes pelos quais atuou".

6. LISTAS ÚTEIS

6.1. Pequeno glossário inglês-português:

6.2. Nomes de competições

a) Internacionais

b) Continentais

6.3. Países e nacionalidades